sábado, 25 de abril de 2009

A cada dia nosso
A cada gesto seu
Brota do amontoado de especulações sobre a vida,
guardadas no quarto em que guardo tranqueiras,
um ramo de vida
e ele sai pelas frestas da porta
a florir toda a casa
antes que eu saia para a rua
deixa sobre meus cabelos
algumas flores
que me acompanham
perfumando o caminho
lá fora
fora do nosso mundo
e essas flores meio anjos da guarda
meio fotografias três por quatro da carteira que eu não tenho
Me lembram que há sim alguém
que está lá, como eu, de peito aberto
e que mais à noite quando voltar
num abraço, dessa maneira
nossos corações poderão se tocar

quarta-feira, 15 de abril de 2009

O ruim não necessariamente está errado
Para ser ruim
não carece necessidade
é coisa da língua
não da cabeça
e para isso temos
o consolo
para convencer as almas contrariadas
pois as explicações só convencem teorias
se faz necessário ter algo
em que se segurar
e o tempo
até onde se sabe
não tem rabo
O gosto travestido em valor
Cedo ou tarde
Há de ter, na boca, um gosto amargo
Mais amargo que uma segunda feira
depois de um domingo que azedou
O valor é
só se for
O gosto é
por si só
Um o que seria bom
Outro o que vicia
Não seria então a farsa uma tragédia
e tampouco a tragédia uma farsa

domingo, 12 de abril de 2009

De todos os prazeres
O prazer mais raro
é o prazer de servir
raro que é, salta os olhos.
alguns chamam estranhamento
aguns preferem inveja
E a luxúria de servir
causa extase máximo
e a alma deixa a carne livre para ser só carne
não se sabe se a alma realmente se retirou
ou se escondeu-se para observar
num ato voyerista e deleitoso
a carne ali solitária
e sincera protagonista
como se fossse um teatro doentio.
Talvez se algo passar dos limites ela intervenha
se estiver lá...
é, se estiver...
e mãos se enchem de corpos e almas
Eos olhos da rua viram.
ele fisgou o anzol
alguns preferem lutar
outros se agradam com a ideia de sair da água
e sufocar lá fora
devem supor que o nada seja mais longe um pouco
ou então são como tabagistas que tem certeza que vão morrer e continuam fumando
Lembrete importante:
Quando for necessário
Se imponha
Quando não for mais necessário se impor
viva
Furor pela manhã
Alma convulsa, atordoada
corre no vazio a esmo
desejo incontido de conter o fluxo
que dançantemente se contorce, e mina exuberante
sem aviso e sem porquê
flui
risomáticamente flui
flui
dementemente
flui
de lugar nenhum para lugar qualquer
E como o sol, se lança em abundância sobre a terra
sobre os transeuntes
que tem que caminhar
e cruzar a nado até a outra margem
gostem de água ou não
pois é líquido o terreno
E quem quer avançar que se molhe
e quem quer prosseguir que se queime
O sol é impiedosamente alheio
aprender a gostar ou viver a contra gosto
para fazer o gol é necessário driblar
com beleza, ou eficiência
não importa
não há remédio, há zagueiros
Há de se conter o fluxo
e o romantismo vulgar do gênio martirizado pela própria genealidade
será uma aposta muito cara
para martirizados só há dignidade na história, o céu burguês
só se vive em primeira pessoa
estão mortos os personagens
Há de se domar o fluxo
Há de se nadar
se contra ou a favor
não sei
Mas há de se nadar
para não ser tragado
Aventurar-se nessa densa imersão
Avançar nessa rasa surperfície